vão (ou Sobre o que sobra)
E da janela viam-se pássaros. Poucos, escassos, mas pássaros. Pairando sobre um cheiro de não-sei-o-quê. Bom, isso era o que dizia a criança, que cresceu vendo os pássaros amigos, e hoje tem medo deles. Pássaros pretos que escrevem linhas de tristeza no livro de suas histórias. Pássaros rápidos que passam a borracha em todas suas glórias. O quintal ainda é de terra, e lá essa criança brinca pra esquecer. Tão poucos anos e tanta coisa em sua memória. Tanta coisa ruim. Só de pensar que um dia achou o canto dos pássaros agradável e hoje acha ensurdecedor. A raiva é muita, e se sentir impotente só piora. Ela pega seu estilingue. Mira lá, bem longe, no pássaro. Põe todo o seu sentimento naquela pedra. O seu desejo é a força que ela põe no elástico, fecha os olhos e solta... A pedra vai, vai... e cai. A criança continua de olhos fechados. É criança mas sabe da verdade. Já tem pensamentos de adulto. E pra fugir disso cria seu próprio filme na cabeça: ( a pedra acerta o pássaro-do-mal, a poeir