Um dia especial (ou um dia qualquer)
Acordou mais cedo, mas custou a levantar. Sentia um misto de uma tola esperança ansiosa e a amarga certeza da realidade. Por fim, levantou. A esposa nem lhe deu bom dia, enquanto ele comia devagar e tomava o café. “Sempre essa moleza”, ela disse, “Vai logo, a gente vai se atrasar”. No andar de cima, as filhas ainda dormiam. A esperança ansiosa diminuía a cada passo que dava, sendo totalmente substituída pela certeza da realidade: nada de diferente, o mesmo trânsito, o mesmo cansaço, o mesmo mau humor. Deu bom dia para os funcionários e foi da colega, de quem nem gostava tanto assim, que recebeu o primeiro “Parabéns”, e logo em seguida, “você trouxe bolo?”. (Afinal, pedir o bolo direto seria excesso de sinceridade e falta de educação). O resto do dia transcorreu normal e sentia-se até envergonhado por ter, horas antes, pensado que seria diferente. Riu de si mesmo, pois ano após ano ele confirmava que nada mudaria: era apenas mais um dia. Voltou para casa, foi o último a sair da empresa.