Primeira Vez (ou aquilo que fazemos entre quatro paredes)

A primeira coisa que chamou a atenção dela foi o espelho no teto: grande e intimidador. O quarto era simples, bem arrumado e silencioso. Seu próprio coração era o único barulho que ouvia. Gentilmente, ele a empurrou para dentro e fechou a porta atrás de si. Agora era tarde demais para desistir.

Ela dirigiu-se vagarosamente ao leito. Notou que o rapaz estava ansioso, o que abrandou um pouco seu próprio nervosismo. E agora? Lembrou-se então dos conselhos da amiga, mais experiente. Um carinho aqui, uma mordida ali: nada de especial. Logo tudo estaria terminado, homens nunca ligam muito para preliminares. Respirou fundo, esvaziou a mente. Pensar, naquele momento, seria inútil. Medo e hesitação só iriam lhe causar mais dor.

Os minutos que se seguiram pareceram horas. O corpo dela apenas reagia aos toques dele, movendo-se por impulso. Enquanto ele transpirava e ofegava, ela se observava no grande espelho do teto. Alheia, fingia não ser dela o reflexo que via.

Logo ele parou de se mover. Ficaram parados durante alguns segundos, ela sentindo o peso do corpo dele sobre o seu. Ele levantou-se, olhou o relógio e foi ao banheiro.
Aos poucos, o som do chuveiro preenchia o quarto e ela voltava à realidade. Sentiu que seu corpo inteiro latejava. O cheiro de tudo provocava-lhe um pouco de náusea.

Ele saiu do banheiro, já vestido e penteado. Calçou os sapatos, pegou seus pertences e verificou se não havia esquecido algo. Por fim, abriu a carteira e entregou a ela três notas.

“Era isso mesmo, né?”, perguntou ele sem esperar a resposta. Abriu a porta e partiu. Sozinha, ela sufocou a parte de si que queria chorar e apertou entre os dedos o dinheiro. Era só uma questão de tempo até ela se acostumar.

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