num impulso só (ou tudo o que coube entre os dois tempos)

,seis, sete ; neide, mais uma vez, conte até dez. dezenas de dez eu sugiro que reze um terço e a sua avó ora por ti. ligue para ela e peça alguma lição de vida alguma coisa que ela saiba e você não, apesar de achar que sabe mais que ela por causa da internet. invente alguma coisa. chore porque ela existe e existir te faz chorar ou chore porque um dia ela não estará mais aqui. apenas isso. sorria porque ela tem aquelas mãos que são só dela e que oram e que se acariciam por pena. desse jeito assim: palma com palma e você percebe a textura tão bem. pare de contar até dez, ligue a tevê e procure não pensar no que os outros fazem enquanto você encaixa seu dedo indicador no umbigo teu e tua vontade de chorar ainda persiste. fique calma que em algum momento todo mundo tem desses momentos, aceite isso. sua avó ora por ti e não há espaço para o vácuo. não pra ela. ela se esforça pra não pensar porque só ela telefona. deixa ela discar, apenas deixa. neide, não existe paz, pare de contar e nem pense em fazer poesias pra tentar superar que eu não me aguento com essas coisas. poesia por hoje não. já é passado e você nunca soube deixar passar. não sei o que dizer quando você vem com essas suas coisas. a gente sabe que é o fim quando é tarde demais ou quando já não se tem mais vontade de adiar o tarde demais? desculpa não saber responder desculpa fazer sua avó responder, ela se preocupa com você saindo do país assim tão decidida ela quer te ver com casa própria, apenas isso. neide, você deveria mudar seus planos. andei percebendo que você gosta de puxar assunto fingindo que sonhou com a pessoa com quem quer conversar. normal. mas você não percebe o quanto eu apodreço pra te fazer sentir. desse jeito assim: enquanto você não aceita o laranja que quero te dar, vou te mostrando o meu azul e faço doer o seu azul guardado nesse seu potinho que é todo azul. talvez apodreço por ser tarde demais pra me esforçar e você aprendeu a deixar passar e aprendeu a não gostar das minhas metáforas que nem entende mais e nem ao menos percebeu que esse seria o terceiro mês de maio. você não quis lembrar porque agora aprendeu a deixar passar. e já que agora pelo visto só sou eu que não sei de tudo isso, pra não te fazer sentir pena vou facilitar e assim; oito, nove, dez

.

Comentários

  1. Nossa, parece os pensamentos que eu tenho quando estou com insônia e percebo que deitei há duas horas e meia hahahahaha
    Eu conto até vinte, mas nunca funciona :/
    Enfim, gostei. Curto e intenso... (E me fez lembrar que preciso ligar mais para as minhas avós)

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

elefantes (ou o tamanho de deus)

oo! (ou o quase-infinito)

Fotografias modernas (ou abecedário de histórias que ouvi bebendo sozinho na Praça da Bicota)