Arquivo #1 (ou o título verdadeiro e a essência de tudo estão escondidos. Mas, de repente, você poderá vê-los em itálico)

Em um mundo onde reinava o trivial, um resquício de amor ainda vivia no coração de Nicole que, ao ver seu antigo homem entregue aos lábios de outra, chorou. A ela, tudo fora tão bom, tão intenso e confortável que até acreditou na eternidade daquelas sensações. Que mulher tola: havia já chegado o momento em que pessoas não se amavam mais, ao contrário, consumiam-se.
Pegou sua bolsa, pagou a conta e sem se despedir dos amigos foi-se embora do bar. Na esquina, em frente ao seu carro, um jovem bêbado – um bosta, como se auto-intitulava – bebia sentado na calçada, escorado na mureta como se fosse a única coisa no mundo a oferecer-lhe apoio.
Levou a garrafa de cerveja à boca e deu um gole fitando a mulher que, assustada – pois tempos de violência nos fazem temer que nos furtem até o coração – dirigiu-se ao seu veículo.
Assim que destravou a porta do carro, viu o homem se levantar. Encararam-se. Em silêncio, o rapaz foi se aproximando, devagar. Notava-se que não era da rua e que em seus olhos brilhava uma intenção bem mais forte e brutal que a do roubo ou abuso.
Face a face, segundos de silêncio, vibrou no vento a voz do jovem:
- Choras também?
Ela abaixou o rosto, sem entender direito que, em sua linguagem própria, dois corações feridos gritaram suas dores e, ouvindo um ao outro, acabaram por se encontrar na esquina de uma cidade qualquer. Abraçaram-se então, mesmo sendo meros desconhecidos, pois o mais necessário naquele momento era, justamente, um pouco de conforto e carinho para duas das últimas almas vivas naquela noite de pranto.









“Já me disseram, e bem sei, que sou um estúpido por te querer e sofrer com a sua ausência sem que seja eu por ti notado. O que ninguém sabe, no entanto, é que eu amo essa minha estupidez”

Comentários

  1. também já tive uma estupidez de estimação...

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  2. Não vou nem perder tempo falando sobre o quão bem você escreve, isso você já sabe. Então, aproveito pra perguntar: quando vai sair um livro? :P
    Confesso que seus temas em geral não são muito do meu agrado, não dá pra se apegar muito ao sofrimento. Se der uma brecha, ele te invade por completo e te corrói aos poucos.
    Ah, eu gosto do seu tom enigmático na escrita!

    Parênteses: "Tempos de violência nos fazem temer..."
    Me inspira uma crônica que eu nunca vou escrever :)
    (isso foi um elogio tá?)

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  3. Wanessa Rangel24/6/10 11:49 PM

    Acabei de ler tudo o que você aqui escreveu e sua escrita muito me agradou!
    Sem precisar de nenhum esforço, dá pra sentir tudo o que seus personagens sentem e entrar totalmente na história.
    Adorei e fiquei com gostinho de quero mais!

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  4. Acho que já falei isso pelo menos umas 1735443 vezes...mas sempre fico pensando: Onde esse danado consegue tamanha imaginação? Como é que as pessoas inventam umas coisas tão legais e passam sem serem percebidos?

    Eu tô aqui. Mas continuo achando que chorar é bom, pra poucos...mas que enche o saco.

    Te amo como poucos!

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  5. “Já me disseram, e bem sei, que sou um estúpido por te querer e sofrer com a sua ausência sem que seja eu por ti notado. O que ninguém sabe, no entanto, é que eu amo essa minha estupidez”

    Estou chorando aqui.

    Parabéns.

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